segunda-feira, 16 de abril de 2012

A SERENATA


Vestida de gemidos de bordão,
lancinâncias de violino,
na noite parada
vem descendo a seresta.

Sumiu-se a cidade barulhenta
inimiga das crianças e dos poetas.

Uma voz canta sentimentalmente um samba.
                   Aquele aperto de mão
                   não foi adeus!
Os cavaquinhos desmaiam de puro sentimento,
a cidade morreu lá longe,
e a lua vem surgindo cor de prata.
                   Nessa história de amor todos são iguais,
                   até o rei volta sua palavra atrás...
O meio tom brasileiro deixa interrogativamente a sua nostalgia.
                   É hora que os poetas escolheram
                   para a procura dos seus mundos perdidos...
Amanhã a cidade virá novamente
inimiga dos poetas.
Mas agora ela dorme,
ela não sabe que os poetas falam com Nossenhor,
com a lua e as estrelas,
nesta hora tão lírica...
Menina romântica, irmã
das crianças e dos poetas...
A tua janela, florida de esperanças,
é um mistério que a cidade não entende.
Passa a serenata.
Mas no coração dos que temem a primeira luz do dia que vai chegar
ficam os gemidos do violão e do cavaquinho,
vozes crioulas neste noturno brasileiro
de Cabo Verde.

Osvaldo de Alcântara
(pseudónimo poético de Baltazar Lopes da Silva)

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